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  • Foto do escritorJuliana Dias

Projeto Mulheres Inspiradoras: Vamos conhecer?

Este texto (no prelo) foi escrito pela professora Gina Vieira. Se você se sentir instigada/o a conhecer o Programa Mulheres Inspiradoras, uma política educacional do DF, sugerimos que você dê uma olhadinha no Instagram: @professoraginavieira e no canal do Youtube: https://youtube.com/channel/UC0L-YOHSjaNlyjG-840-5Ww


Aos poucos fui descobrindo uma escola orientada por uma lógica bancária, colonial, autoritária, instrucionista, onde os estudantes tinham poucos espaços de escuta e de fala e onde o que lhes restava como alternativa de espaço de expressão era a indisciplina. Era ali, naquele caos que eles sinalizam para mim que o que estávamos propondo não os tocava, não os atingia, não fazia sentido para eles. Foi ali que eu fui percebendo que precisava trazer outras práticas, criar outros processos. Ali, eu me dei conta de que precisava ter a coragem de contestar a minha própria prática e a cultura escolar, e a partir da professora que eu era, até então, e da escola onde eu estava imersa, que eu precisava encontrar um outro caminho. Como eu disse, isso foi há quase 20 anos. Ter me lançado nessa jornada de ressignificação, reinvenção do meu fazer pedagógico foi desafiador, mas também foi muito fortalecedor. Em 2014, depois ter experimentado, criado e recriado muitos outros projetos desenvolvi o Mulheres Inspiradoras. Costumo dizer que é um projeto que nasce na maturidade de uma jornada pedagógica vivida com muita intensidade, sem reservas, em mergulhos cada vez mais profundos e com entregas cada vez mais apaixonadas. Não foi o primeiro, nem o segundo, nem o 10º projeto que eu realizei junto aos estudantes que me foram confiados nesses quase 30 anos de trabalho, mas foi o que obteve mais visibilidade pelas temáticas que propôs e pelas metodologias que dele emergiram.

Talvez você que está lendo esse texto ainda não conheça o projeto e, embora o meu objetivo principal aqui não seja escrever sobre ele, acho adequado apresentá-lo, ainda que brevemente. Em 2014 eu vinha desse longo processo de ressignificação a que eu me refiro. Parte desse processo de ressignificação foi me aproximar das redes sociais. Recordo-me de, por volta de 2004, ser interpelada por um estudante que me disse: “Que paia, professora, você não tem Orkut?!” Aquela foi a chave pra eu entender o quanto a garotada curtia o que começava a surgir lá pelos idos de 2000- as chamadas Redes Sociais. Passei a utilizá-las como ferramenta pedagógica para me aproximar dos estudantes, para saber em torno de que giravam os seus interesses, de que assuntos falavam fora do contexto escolar. E foi ao usar as redes sociais que eu me deparei com um vídeo postado por uma menina de 13 anos, que era minha aluna. No vídeo ela dançava e o que ela fazia reportava às representações hegemônicas que objetificam e desumanizam as mulheres, reduzindo-as a corpos expostos para vender produtos e a aumentar audiência em programas de TV.

Para abordar o tema, entendi que precisava pesquisar a origem daquele comportamento replicado por aquela e por tantas outras meninas e me dei conta de que a nossa cultura é, segundo De Lauretiss (1994) atravessada por Tecnologias de gênero- modos simbólicos que definem o que é esperado, aceito ou desejado para cada gênero, homens e mulheres, nessa perspectiva binária e hetero-normativa. Na nossa cultura, as Tecnologias de Gênero promovem representações em que as mulheres são hiper sexualizadas, subalternizadas, há uma celebração de um padrão estético e performático que coloca em destaque justamente mulheres que se enquadram na lógica proposta pela perspectiva masculina, racista, sexista e patriarcal.

O que aquela menina de 13 anos fazia era reproduzir o que a cultura propõe. A partir dessa constatação, percebi que um caminho possível seria propor contra- Tecnologias de Gênero, ou seja, apresentar para meninos e meninas representações que subvertessem a lógica hegemônica, colocar em evidência narrativas e trajetórias de mulheres que se insurgem às limitações impostas pelos estereótipos de gênero. Foi assim que decidimos propor o estudo da biografia de 10 grandes mulheres (Anne Frank, Carolina Maria de Jesus, Cora Coralina, Irena Sendler, Lygia Fagundes Telles, Malala, Maria da Penha, Nise da Silveira, Rosa Parks e Zilda Arns). Paralelo ao estudo dessas biografias, propusemos a leitura de seis obras escritas por mulheres (O Diário de Anne Frank, Eu sou Malala, Quarto de Despejo- Diário de uma Favelada, Não vou mais lavar os pratos, Espelhos, Miradouros e Dialéticas da Percepção e Só por hoje vou deixar o meu cabelo em paz- esses três últimos de autoria de Cristiane Sobral).

Na última etapa do projeto, os estudantes foram convidados a conhecer mulheres inspiradoras da nossa comunidade, desde grandes lideranças que nasceram ou atuam no nosso território, até mulheres de suas famílias- mães, avós, bisavós. Eles entrevistaram essas mulheres e puderam conhecer detalhes das histórias de suas vidas. O projeto atingiu o seu objetivo principal, que era promover o engajamento dos estudantes no processo pedagógico, redundou em um livro em que os textos produzidos por eles e elas contando as histórias das mulheres inspiradoras de suas vidas foi publicado e, naquele mesmo ano, recebeu o reconhecimento de dois prêmios importantes: o 4º Prêmio Nacional de Educação em Direitos Humanos e o 8º Prêmio Professores do Brasil. Posteriormente, houve o reconhecimento de mais 11 prêmios diferentes, inclusive prêmios internacionais como o I Prêmio Iberoamericano de Educação em Direitos Humanos.


Gina é pesquisadora do GECRIA. Você pode ler sua dissertação de mestrado "Programa mulheres inspiradoras e identidade docente : um estudo sobre pedagogia transgressiva de projeto na perspectiva da análise de discurso crítica" através do seguinte link: https://repositorio.unb.br/handle/10482/38764




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